Faz parte da natureza humana: quando mais se têm mais se quer. Notoriedade, riqueza e influência são graças advindas da conquista do poder. O santo graal dos Gollum de espírito. Além destes pontos, geralmente se desperta outro desejo: o de fazer seus opositores se calarem. Antigamente tinha que ser fisicamente mesmo, mas agora até um simples pedaço de papel já é suficiente. Basta ter a assinatura correta.

Recentemente o blogueiro Alberto Murray Neto foi denunciado pelo promotor Alexandre Murilo Graça por colocar uma imagem em seu blog do Cristo Redentor com colete e armado. Na matéria do Jornal (que pode ser acessada por este link), a acusação foi que ele “escarneceu publicamente e vilipendiou objeto de culto religioso”. Agora ele esta sujeito a pegar um ano de prisão.

Se fosse apenas por esta acusação, não teria muita razão a punição (mesmo porque este não foi o objetivo da imagem). Afinal, como disse o jornalista Juca Kfouri, existem muitas imagens na internet no mesmo sentido. Uma busca simples no Google Imagens por “Cristo redentor charge” pode comprovar. Ainda mais que, como argumenta o blogueiro, ele não fez a charge. Simplesmente pegou uma entra várias que existem pela rede (depoimento dele aqui).

Mas a história não acaba aqui. Como você pode estar imaginando: o buraco é mais embaixo. Pois é, o blog do Alberto possui várias criticas à candidatura do Rio de Janeiro para os jogos Olímpicos de 2016. Juntando provas das irregularidades (incluindo detalhes do Pan Americano no Rio). Colocando em dúvida a administração do Carlos Arthur Nuzman, presidente do COB. Qual a dedução mais lógica que chegamos: a questão na mesa não é bem a exposição pejorativa do símbolo religioso, mas uma tentativa de calar uma voz que pode atrapalhar a campanha da cidade.

Não sei em outros lugares do Brasil, mas aqui em Minas Gerais, a imagem que nos é passada do Rio de Janeiro é muito ruim. Tenho certeza que no resto do mundo a situação não é muito melhor. A garota de Ipanema envelheceu, já não é mais a mesma.

A questão é: tentar impedir que um blog fale sobre as mazelas da cidade, não é nem de perto a melhor solução. Qual foi o verdadeiro resultado obtido com a tentativa de censura? Mais publicidade para as denúncias! Talvez alcance âmbito internacional. Ou seja: o tiro saiu pela culatra, virou bala perdida e pode fazer uma vítima.

Não estou aqui para fazer campanha nem contra nem a favor da candidatura do Rio de Janeiro. Não é objetivo deste texto. Queria conversar sobre esses casos clássicos de, digamos, atitudes mal planejadas. Quando a censura tenta ser sutil mas acaba explodindo estilhaços para tudo quanto é lado.

Este caso me lembrou à polêmica de 2002, com o protesto do secretário de turismo do Rio de Janeiro sobre o episódio dos Simpsons em que família veio ao Brasil. Um episódio ácido, fantasioso e muito engraçado que só conseguiu a grande divulgação mundial graças à postura protecionista do político (digo mais, a família de Springfield ganhou fôlego de continuar no ar graças à divulgação na mídia). Cenas que poderiam ter passado batido na história, acabaram se virando contra a imagem do Brasil. De satirizados para ridicularizados. Não aprendendo, a história se repete.


Outros casos de tentativa de bloqueio que também tiveram o resultado reverso:

  • Quando o jogo Carmageddon (muito mal feito, diga-se de passagem) teve sua distribuição proibida nacionalmente por seu “alto teor de violência”, a curiosidade de instaurou e a procura pelo jogo aumentou. Tal como aconteceu com o Counter Strike.
  • Com a petição pela retirada do Youtube do ar por causa do vídeo intimo da Daniela Cicarelli, o que vimos foi, além do irresponsável pedido, todos ficarem curiosos com as safadezas da apresentadora.
  • Provedores de internet do Reino Unido que, para censurar um artigo do Wikipedia, acabaram bloqueando todo o serviço. E ainda promoveram a tal imagem da menor de idade.
Todos eles, casos em que poderiam passar por despercebido por muita gente. Bastava deixar o tempo passar. Mas não! Quanto mais se mexe na bosta, mais ela fede.

Por falar nisso, muitos políticos dominam o “efeito tempo”. Sabem ficar calados no momento correto. Para uma nação que não se importa com a história, fica fácil se envolver em falcatruas, se enriquecer com o dinheiro público, se afastar para não ser cassado e, quando a poeira abaixar, voltar com totais chances de reeleição.

Felizmente o Alberto não se calou. Continuou sua missão. Denunciando super faturamentos. Cobrando respostas. Sem ligar para o que dizem ser imoral. Calar a verdade é que é indecente. O fato desta nação ser em sua maioria cristã, não quer dizer que temos que ficar de olhos fechados, orando e perdoando nossos “filhos pródigos”.