Sem dúvida, o assunto que dominou as discussões dos sites e blogs de tecnologia durante a semana foi o anúncio do Google Chrome OS. O confronto entre Google e Microsoft ganha um novo elemento. Agora a empresa líder mundial no setor de buscas se prepara para lançar um Sistema Operacional próprio, competindo assim com o principal produto da empresa de Bill Gates. Será que tem futuro? Gostaria de analisar alguns detalhes.

Uma das características destacadas pelo Google: Um Sistema Operacional leve. Fica claro que eles fizeram questão de pisar no calo do atual produto da Microsoft. Ninguém pode dizer que o Windows Vista foi um fracasso. Depois de um péssimo começo, o software até conseguiu uma difusão maior. Mas ele foi muito criticado pela grande exigência de hardware. Assim, foi uma boa estratégia do Google focar neste ponto. Independente dos resultados apresentados no Windows 7, com certeza eles conseguirão fazer um sistema mais leve (assim como vemos na área dos navegadores: Internet Explorer x Chrome).

Para oferecer os resultados prometidos, eles utilizarão ao extremo o conceito da Computação em nuvem. Para que armazenar seus textos e músicas no HD se você pode manter tudo em servidores na internet? A partir do browser, os usuários poderão acessar todos os aplicativos e dados. Com isso, dizem eles, pouparíamos recursos de hardware e teríamos maior segurança.

Neste ponto temos alguns problemas. Por um lado temos o promissor (muito bem sucedido em algumas áreas) conceito de Computação em nuvem. Na área dos e-mails, eles conseguiram superar quase que por completo os antigos modelos. Mas existem muitas áreas tradicionais ainda (como na área de edição gráfica). A Adobe, por exemplo, já chegou a lançar uma versão online do seu principal produto, o Photoshop Express. É claro que esta versão não é tão completa quanto à versão desktop. Mas já é um avanço. Também poderia citar a área dos jogos. Várias grandes franquias se utilizam de uma instalação na máquina cliente. E o Google já deixou claro: “o objetivo não é o entretenimento local, através de potentes processadores gráficos capazes de executarem jogos”.

Logo, teremos uma certa rejeição perante um certo público. Não somente do público mas também de alguns produtores de software (talvez também os de hardware). Mas é claro, vale lembrar: Este Sistema Operacional está sendo desenvolvido para Netbooks (notebooks menos potentes) inicialmente. Mas, segundo os planos, eles pretendem expandir para outras plataformas. Terão que pensar bem neste quesito.

Outro detalhe que vale a pena a ser analisado: a partir do momento que os dados e aplicativos estão armazenados no ambiente online, passará a ser exigido cada vez mais de uma boa conexão de internet. Infelizmente aqui no Brasil, existe um problema de infra-estrutura para uma rede de qualidade. Seja de acesso a banda larga a todos os locais do Brasil, seja em estabilidade de serviço ou falta de empresas competidoras capazes de abaixar os preços.

Mesmo com a existência de ferramentas de armazenamento off-line dos dados(Google Gear), a necessidade por manter o sistema sempre conectado é maior.

Um último ponto a se discutir é a segurança. O crescimento da quantidade de usuários na internet tem preocupado alguns analistas. A queda temporária de alguns serviços (como o Gmail e o Twitter) são exemplos disso. Eu mesmo já fui alvo disso. Por um bom tempo, utilizei o gerenciador de sites favoritos: Ma.gnolia. Alguns meses atrás eles tiveram um problema em seu servidor e perderam os dados de vários usuários. Agora eles estão tentando se reestruturar e voltar à ativa. Mas acho difícil. Neste caso, eles perderam a credibilidade com parte de seus usuários.

Se por um lado já é comum ver o Twitter ficar fora do ar por alguns momentos, alguns outros serviços não podem se dar a este luxo. Ainda mais em um Sistema Operacional com esta proposta. Será que o mundo está preparado para um projeto assim?

Por essas e outras, eu fico com um pé atrás nesta nova jornada do Google. Acredito que o mercado, no atual momento, não está preparado para isso. Temos que esperar para ver. Mas, quem sabe, possa acabar virando a grande cartada deles. Lembro muito bem do comentário de Charles Geschke, da Adobe, no livro Startup: “Se você está focado no mercado de hoje, quando apresentar a solução para um problema haverá muitas outras no mesmo nicho... É preferível imaginar onde estará o mercado em alguns anos, concentrar-se em uma solução futura e deixar o mercado se esforçar para alcançar você”.