Nesta última segunda-feira, Eric Schmidt, CEO do Google, fez um discurso na Universidade da Pensilvânia que acabou ganhando grande repercussão em todo o mundo. Ele pediu, aos alunos formandos, que se desligassem do mundo virtual e começarem a aproveitar mais o tempo com as boas coisas da vida.

Desliguem seu computador. Está na hora de vocês desligarem o telefone e descobrir tudo o que é humano ao nosso redor... Não há nada melhor do que segurar a mão do seu neto quando ele está dando os primeiros passos.

A declaração conquistou uma grande divulgação. Afinal, este é um ponto de vista que não é muito lembrado pelos grandes nomes da tecnologia. Suas vidas ganharam importância graças aos seus desenvolvimentos no âmbito virtual. Quando estes são chamados para uma palestra, não se espera que toquem em assuntos “reais”. Digo mais: é um pensamento que vai na contramão dos preceitos capitalistas. Existe uma necessidade quase doentia de se manter atualizado.

Já tinha comentado em um dos últimos posts sobre meu espanto com a velocidade da informação. Tudo muda muito rápido. Como ficar por dentro de todo este cenário constantemente? Ou melhor, até que ponto é fundamental se atualizar segundo a segundo?

Na terça-feira, ocorreu uma boa discussão do Debate MTV (o vídeo do programa pode ser assistido aqui) sobre a possibilidade do fim da mídia impressa. Em um dos pontos da conversa, eles citaram um perfil de leitor de jornal: aquele que está interessado na informação mas não faz questão que seja instantânea (mesmo que esteja um pouco defasado, a cobertura tende a ser mais completa). Bem, que existem pessoas assim, não tenho dúvida. Mas não é a tendência da maioria.

O Carlos Cardoso fez um comentário muito interessante no Nerdcast sobre Twitter. Precisa-se de tempo para preparar um bom artigo. Até ele postar no blog, já será notícia velha no Twitter. Este caso exemplifica bem este outro tipo de leitor. Aquele que está interessado na novidade (vindo esta de qualquer aparelho).

Mas voltemos ao assunto inicial, será que a dica do Schmidt pode ser analisada de um ponto de vista mais profundo? O fato de deixar a tecnologia de lado por alguns momentos, além de trazer bons resultados emocionais e físicos, também poderia ser encarado como de fundamental importância para o ser humano?

Uma área de estudo da ciência que ainda não está completamente fundamentada é a do sono. Por que precisamos dormir afinal? Para muitos cientistas, nós precisamos descansar para fixar em nosso cérebro as informações que são absorvidas durante o dia. Se até o nosso corpo tem a necessidade de se desconectar do mundo real, por que não fazer a comparação com o virtual? Toda a avalanche de informações precisa ser assimilada. Fazer uma pausa para isso é uma boa solução.


Na edição de Abril da revista Super Interessante, existe uma ótima matéria sobre o processo de funcionamento da memória. Um exemplo me chamou a atenção. Quando tentamos, mas não conseguimos, lembrar, por exemplo, de um nome de uma pessoa, a melhor solução a se fazer é: nada! Depois de certo tempo, a informação tende a vir naturalmente. O poder de armazenamento do cérebro humano é surpreendente. O problema é a velocidade de troca de informação entre os neurônios.

Como não somos robôs (ainda bem!), resta-nos aprender a tratar nosso amigo pensante com cuidado. Fazer uma caminhada ao ar livre com o celular desligado pode até parecer absurdo para alguns. Mas será mesmo esta hipótese inaceitável? Segundo Carol Vigna-Maru, em uma de suas participações no ótimo Fala Freela!, é possível para muitas profissões. Vale a pena fazer um esforço.

É tudo uma questão de tentar se adequar. No final das contas, aquela famosa frase pode ganhar um novo sentido: “A ignorância é uma benção”.