Se existe uma coisa que eu nunca gostei nos DVD são os comentários dos críticos. Ter que analisar o filme em apenas uma frase é algo bem complicado (nem todos os filmes são fáceis de serem avacalhados quanto As Duas Faces da Lei). Nem no Twitter o espaço de comentário é tão pequeno assim. Mas se isso já não fosse o suficiente, a seleção para a escolha dos comentários é pra lá de duvidosa. Claro, nenhum distribuidor com bom senso permitiria uma crítica ruim estampada na capa de seu filme, porém existem limites. Algumas apresentações são dignas de Fausto Silva.


Lembro muito bem da primeira vez que me decepcionei com um filme graças a uma destas analises. Era o futurista Equilibrium. A capa estampava o humilde dizer: “Esqueça Matrix”. Como fã da obra dos irmãos Wachowski, eu pensei: “Uau! Ou este vai ser O Filme, ou vai ser uma baita decepção”. Infelizmente, Murphy não brinca em serviço. Tal qual Neo tentando pular entre os prédios, o filme despenca em sua própria arrogância. Não precisei nem chegar à cena final (espadachim com armas não dá!) para me decepcionar. Não que o filme seja um lixo. Pode até ser válido com entretenimento descompromissado. Mas depois de uma frase dessas, não tinha como não assistir comparando os dois filmes.

Os críticos tiveram a mesma opinião (veja as notas aqui). A média do filme foi muito baixa. Com exceção de pouquíssimos analistas, como por exemplo: Roger Ebert (guardem este nome), do Chicago Sun-Times, que deu a maior nota.

Deste dia em diante, meus olhos foram programados para evitar contato com certas partes da capa (assim como faço com o Adsense). Tudo para evitar outra decepção. Mas, de vez em quando, o olho desobedece (não é Obama?) .

Semana passada eu peguei o DVD do filme Presságio, do diretor Alex Proyas, para assistir. A capa é super bem produzida (nada original mas está em bom nível para um filme do gênero). Só a foto do Nicolas Cage já é dica de se tratar de um blockbuster. Não precisava colocar no rodapé a seguinte crítica: “Um dos melhores filmes que já vi”. Elevar as expectativa nas alturas é um grande perigo. Quanto maior a pretensão, maior o tombo.


Não posso dizer que o filme é ruim. Existem algumas boas cenas (a do avião ficou sensacional. Um belo trabalho de colocar o telespectador na cena), bons efeitos especiais, um roteiro que cria uma expectativa (mesmo que este possa ser decepcionante ao final para alguns) e atuações questionáveis. No geral, como entretenimento, deu pra curtir. Nada original nem genial. Apenas um boa diversão hollywoodiana.

Porém fiquei com aquela frase na cabeça. Mesmo não tendo nenhuma formação acadêmica na área, ficou claro pra mim os vários erros do filme. Não colocaria esta frase em minha avaliação. Fui procurar saber informações sobre o autor da frase. Adivinhem de quem é? Sim, Roger Ebert! O mesmo que tinha adorado Equilibrium. Estranho não?


Aproveitei para visitar um dos sites que constam a analise de vários críticos sobre o filme. Ele foi o único a dar nota máxima! Comparando a média dada por seus companheiros, sua nota está tão fora de si quanto Vanussa cantando o hino nacional.

E não para por aí: ele colocou a seguinte mensagem: “Knowing (nome original do filme) está entre os melhores filmes de ficção cientifica que eu já vi”. Coitado, ele deve ter visto poucos filmes do gênero. Veja a diferença entre a maior e pior nota:

Eu não vou me prolongar analisando seu post original ou até sua resposta diante de sua surpresa após ver o filme ser tão mal recebido. Nem estou aqui para colocar o infeliz crítico como Judas. Suas notas foram bem estranhas mas, infelizmente, isso não é exclusivo dele. Analisando outros exemplares no site, cada filme possui uma avaliação totalmente fora do padrão. Em ambas posições na escala: dos mais generosos nas notas aos discípulos de Jay Sherman.

A questão é o que comentei no início. Uma coisa é anexar uma crítica. Dar valor ao filme. Outra, bem diferente, é criar uma expectativa acima do normal sobre o filme. A probabilidade de decepção é maior. Os Estados Unidos estão vivenciando isso neste exato momento. O democrata que chegou com a exagerada expectativa de acabar com a crise (e matar algumas moscas no caminho) está vendo sua imagem se desvalorizar como nunca aconteceu na história da política americana. É o “campo de distorção de realidade” do marketing perdendo a força.

Chega de propaganda super valorizada! O usuário final não pode ser enganado. Falsas promessas caem. Seria como vender uma camisinha com o slogan: “Mil e uma utilidades”.