Você está em uma roda de amigos, todos conversando ao mesmo tempo. Sem dar uma de Kanye West, como atrair a atenção deles para você? Falando alto? Sim, funciona também. Mas falar bem baixinho é mais interessante (e menos invasivo). Cochichar ao pé do ouvido gera a curiosidade. Seja em grande ou baixa escala, este sentimento é excitado. Alguns exageram. São neuróticos e sempre acham que o assunto é sobre eles. Outros se sentem fora da “rodinha da informação”. Não se importam: eles têm descobrir o assunto (principalmente se o assunto principal for o próprio).

Na internet, não poderia ser diferente. A curiosidade ganha novas proporções. Primeiramente porque o ambiente passa a idéia de que ninguém está te vigiando (Sim! Passa a impressão... o Sr. Google vê tudo!). Segundo, pela mudança de mentalidade dos novos internautas. A nova pratica não é se esconder por trás de apelidos e avatares, como era comum a alguns anos atrás, mas mostrar quem você realmente é (seja com assuntos externos ou pessoais). Algumas pessoas vão até muito longe com os dados íntimos. Diante esta exposição 2.0, os curiosos fazem a festa.

Atualmente, o Orkut e o Twitter podem ser encarados como verdadeiros Big Brothers online. Sem censura. Sem armação. Vinte e quatro horas por dia com toda a desinformação a quem possa interessar.


A nova onda agora é o Google Wave. O novo projeto que pretende juntar e-mail e redes sociais em um único ambiente. O período de testes começou a pouco tempo. Estão liberadas contas apenas via convite (sendo estes ainda bem escassos). O quadro que temos atualmente é: as pessoas não querem saber que o projeto está recebendo algumas críticas negativas ou que Robert Scoble definiu a ferramenta como improdutiva (tem tudo a ver com meu artigo anterior). Não importa! Por ser um serviço exclusivo, todos fazem questão de testar!

Ou melhor, não é simplesmente testar: o que as pessoas querem é fazer parte. Em uma mídia em que quase tudo é livre, colocar uma limitação para poucos “felizardos” remete a ilustração da rodinha de conversa. No final das contas, o que realmente importa é mostrar a língua e cantarolar: “eu tenho! Você não tem”.

Esta jogada do Google não é original. No lançamento do Gmail, foi utilizada a mesma estratégia. O fato da criação de um serviço de e-mail com um espaço de armazenamento muito maior do que os principais concorrentes da época era apenas um detalhe. Conheci muita gente só faltava fazer um crachá para celebrar a conquista de uma conta.
Alias, o pior não foi isso. Muitos usuários vendiam seus convites em sites como o Ebay. Com preços que ultrapassavam o bom senso. Fato este que se repete. No exato momento que escrevo este texto, vários usuários estão comercializando seus convites do Google Wave no mesmo site. Com preços que chegam a $35,00 (na semana passada, os valores atingiram na casa dos três dígitos). Você consegue alguma explicação para isso que não seja o fator curiosidade? Eu não.

Claro que não estou aqui para dizer que toda curiosidade é maléfica. O ser humano evoluiu na ciência, filosofia e tecnologia graças às mentes inquietas de grandes pensadores. Sou grato a estes homens. Mas existe uma diferença entre usar este “fator de inspiração” para casos produtivos e, do outro lado, ir de encontro a uma caixa gritando: É um, papapá! É um, papapá! É um, papapá!