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20 de janeiro de 2010


Indiscutivelmente, um dos produtos mais comentados nesta última CES (Consumer Electronics Show) foi o leitor de e-books. Uma invasão dos mais variados modelos, cores e recursos. Todos interessados em entrar nesta fatia de mercado que a pouco tempo está sendo explorada. Esta busca se justifica pelos números anunciados deste setor: segundo a Amazon, neste último natal a venda de livros digitais superou, pela primeira vez, a dos exemplares impressos. Alias, no mesmo relatório, foi declarado que o Kindle passou a ser o presente mais popular da história da Amazon.

Seja pela queda dos preços nos leitores, grande espaço de armazenamento, melhora da bateria ou pelo sistema proprietário Wi-fi de venda, a verdade é que este parece ser um setor de grande futuro. Pode até não ter espaço para todas as empresas ingressantes, mas é fato que podemos estar diante de uma mudança de comportamento.

A pergunta é sempre a mesma: os leitores de e-books podem tornar obsoletos os livros impressos? Por mais que a pessoas gostem das novidades tecnológicas, a grande maioria dos comentários que encontro na internet é sempre declarando amor eterno ao papel. Flávia Denise de Magalhães, do blog Livro Livre, fez até a interessante postagem “10 razões porque prefiro ler no papel”.

Eu concordo com ela. Afinal, somos de uma geração que o papel foi fundamental para o ensino, cultura e diversão. Desde a infância: com os gibis da Turma da Mônica, os álbuns de figurinha do Ping-Pong, os livros da série Vaga-lume, livros de colorir, etc. Pesquisar na enciclopédia Barsa ou ir à biblioteca para fazer um trabalho da escola era a única forma disponível. Comprar um jornal na banca era a melhor forma de se estar “atualizado” e não apenas informado. Porém os tempos são outros.

Sucessos de vendas, como o da série Harry Potter, ou o ressurgimento de muitas franquias de quadrinhos (graças aos sucessos hollywoodianos) não são exemplos suficientes para que acreditemos que o futuro do meio impresso permaneça no interesse das novas gerações. A tecnologia ganhou campo como nunca antes. Agora, presente para criança de sete anos é um celular, o mouse serve perfeitamente como novos pincéis em programas infantis de colorir e, quem diria, a única coisa a se colecionar agora são pokemons nos portáteis da Nintendo.

Para uma geração que está acostumada com tudo isso, o uso dos leitores de e-books é mais do que natural. Logo, a substituição poderia sim ser possível. Conforme a própria Flávia indicou no texto acima, para os leitores que tiverem saudade do cheiro de livro novo existe até lata de aerossol para este propósito. Alias, eu quero um!

A partir da idéia que os novos leitores não se incomodariam com o uso deste gadget, a queda do preço dos livros, diminuição de desmatamento e gasto com transporte, tudo isso poderia gerar um cenário até melhor.

O mais importante de tudo é: acima de comodidades e sentimentos nostálgicos, que a cultura seja disseminada. Com mais intensidade. Fomentando a imaginação das pessoas. Discutindo novas metodologias. Sem obrigações, apenas pelo prazer na leitura.



Aviso aos leitores: Estou passando um tempo longe do blog pois estou em um período de reflexão e leitura. Falar sempre não dá certo. Ouvir o que os outros têm a falar também é importante. Mas podem deixar que não abandonarei o blog. Até o próximo post!

© Imagem 1: Richard Manoser

2 de janeiro de 2010


Gostaria de usar este artigo como comentário ao podcast de Bia Kunze, Garota Sem Fio, sobre o sistema Android. Você pode baixar o programa através deste link. Neste episódio, ela fez uma analise sobre vários aparelhos de smartphone que chegaram ao mercado nacional que rodam o Sistema Operacional do Google.

Um dos pontos levantados na análise chamou-me a atenção. Uma característica marcante nas aplicações disponíveis no Android é o forte uso da computação em nuvens. A filosofia de armazenar todas as ferramentas e dados do usuário na internet, e não na máquina cliente, é defendida com toda força pela empresa desenvolvedora. Se por um lado esta tática traga uma teórica maior liberdade e segurança dos dados (já que estes podem ser acessados de qualquer equipamento com acesso a internet, mesmo com a perda do aparelho), por outro lado implica em alguns dos problemas mostrados: exigência de assinatura de um bom plano de dados para o smartphone, constância e qualidade na conexão de internet, etc.

Em momentos cuja conexão com a internet não é possível, a nuvem se torna o problema. Como acessar aquele e-mail importante com as decisões da empresa? Nestes casos a prévia sincronização dos dados para algum dispositivo físico torna-se fundamental. Este é o ponto de maior reclamação de Danilo Brizola, do site PDAMagazine, no mesmo programa. Diferentemente do comentado no podcast, acredito que esta não é uma questão de falta de atenção do Google com os usuários. É uma questão de estratégia de mercado.

Analisando os andamentos da empresa em outras áreas, isso fica bem claro. Vejamos, por exemplo, o Chrome OS: sistema operacional do Google desenvolvido, inicialmente, para netbooks. Ao iniciar o computador exibe-se apenas um navegador. Todos os recursos a serem acessados dependem da internet (não vou entrar aqui na discussão do recurso do Google Gear). Qual é a estratégia por trás disso? Atingir a rival Microsoft em três áreas:

  • Colocar um Sistema Operacional para concorrer com o Windows.
  • Com o carregamento automático do navegador Chrome não sobra espaço para o Internet Explorer.
  • Aplicativos que precisam ser instalados, como o Microsoft Office, seriam excluídos.

Jogada de mestre? Eu acredito que sim. Para uma empresa que poderia se considerar segura em sua posição como maior provedor de busca da internet, a ampliação de sua atuação está se mostrando muito bem sucedida. Claro que uma estratégia tão agressiva como esta vai dar início a vários processos no quesito monopólio. Seus advogados terão que estar muito bem preparados!

Claro que o sistema Android não possui as mesmas características e utilidades do Chrome OS. Porém, por lógica, a desenvolvedora tem que manter estratégias parecidas para todos seus produtos. Se ela realmente acredita no futuro da computação em nuvem, ela deve expandir este recurso para todos seus produtos. Em um segundo passo, fazer com que os usuários acreditem que esta estratégia é o futuro e que seus concorrentes estão errados.

Aproveito para falar também sobre a Apple. Tenho visto que o Android possui características que exploram pontos falhos da concorrente. Focarei apenas em um lado: os dos desenvolvedores. Primeiramente, a API do Iphone só funciona em computadores com a marca da maça. Já a API do Android roda em qualquer computador (alias, com uma boa integração com a popular IDE Eclipe). Em outro quesito, muitos programadores têm reclamado do excesso de burocracia na App Store. Programas sendo barrados e retirados sem um código de conduta tão transparente como se esperava. Não tenho muito conhecimento da Android Market. Sei que a quantidade de aplicativo está aumentando bastante. Porém, diferente da Apple, não lembro de ter lido reclamações neste quesito.

Talvez esteja se perguntando: os programadores de aplicativos são tão importantes assim para o sucesso do projeto? Com certeza! O que realmente importa nas lojas online para aplicativos móveis não é a quantidade total de aplicações, mas a qualidade e variedade. Segundo NPD Group, 16% dos programas na App Store são jogos. Além do que, dos dois bilhões de aplicações baixadas, 65% são jogos. Se os desenvolvedores começarem a perder o interesse pela plataforma teremos inicio a uma diminuição nos serviços variados (nem só de game vive um usuário de smartphone). Isto seria péssimo para a Apple. Alias, este resultado será visto primeiramente em outro concorrente: o BlackBerry.

O número de programadores para esta plataforma só está diminuindo. A complexidade no sistema está espantando eles. Peter Sisson, CEO of Toktumi, deu um exemplo neste ótimo artigo da Wired: Ele colocou um anuncio na Craigslist (Classificados) procurando por desenvolvedores para plataforma BlackBerry e iPhone. Após algumas horas, recebeu 100 currículos interessados na plataforma da Apple e apenas alguns responderam pela outra postagem. Ele ainda comenta: “A menos que a RIM faça grandes mudanças em sua plataforma... o BlackBerry nunca terá a quantidade e qualidade dos aplicativos que o iPhone e Android terão”.

Como podem ver, o Google está muito bem preparado para brigar com seus concorrentes. Segundo pesquisa recente da Gartner, ele será o vencedor desta disputa (pelo menos no campo da telefonia móvel). Tudo graças as estratégias. O usuário final já não é prioridade para a empresa. Alias, como comentei recentemente com o Anderson Lopes no Twitter: a empresa já abandonou a filosofia “don’t be evil” faz muito tempo.